moim restaurante ou, como aprendi a temer o mainstream

TANG E RATS

Antes de começar, eu preciso fazer uma confissão para você, querido leitor. Bem aqui, no primeiro parágrafo mesmo, só pra provar que eu não preciso gerar suspense e que minha alma é até que muito honesta: eu sou muito fresca.

Meu paladar foi treinado por gerações de avós italianas e por um pai muito curioso. E eu culpo ele (e quem não culpa o pai?) e todas as temporadas de MasterChef, Hell’s Kitchen, Pesadelo na Cozinha, Kitchen’s Nightmare, Parts Unknown, O Boteco do JB e, talvez, minha lua em Leão. Mas isso não significa que eu sou uma boa crítica, eu diria que, na verdade, minhas opiniões são completamente enviesadas. Apesar do meu punho fechado, quem manda é totalmente meu coração e ele só quer uma comida boa, bem boa, na verdade e, de preferência, todos os dias. Não me importa se os legumes estão cortados em julienne ou brunoise, ou se o garçom tá de terno ou com a camiseta do Corinthians, eu só quero uma comida gostosa, que te faz abrir o botão da calça e dizer: “hummmmmmmmm”.

E aqui está o punchline: O restaurante Moim não me fez abrir as calças.

Visitamos o restaurante Moim pela primeira vez no dia 1º de junho de 2025 (data importante no calendário dos ratolovers). Ele fica na Rua Ribeiro de Lima, 453, na torre da direita, primeiro andar, no bairro do Bom Retiro (SP). Nós somos connoisseurs da culinária coreana e já batemos cartão em vários restaurantes do bairro (que, aliás, é muito melhor pra comer comida asiática do que a Liberdade). Além disso, é o tipo de comida que a gente realmente gosta de comer no dia a dia ou em datas importantes ou num fim de semana qualquer, iykyk. Ou seja: essa não foi, nem de longe, nossa primeira experiência com essa culinária.

O que não parecia ser o caso de muitos dos clientes ali no domingo. Não tô dizendo que coreanos não frequentam o Moim ou que eles não tenham clientes fiéis, mas me pareceu que muita gente estava atrás daquela primeira experiência com a comida dos doramas, e isso ficou ainda mais claro nos pratos carro-chefe da casa: topokki (bolinho de arroz no molho de pasta de pimenta coreana, o gochujang) e o churrasco, que é a escolha “safe” de quem não sabe muito bem o que pedir.

E talvez nosso erro tenha começado aí. Quando chegamos, tinha uma fila de espera (o que, pra mim, que tenho fomo crônico, não é exatamente um problema). Esperamos um pouco em pé, até que a atendente conseguiu uma mesa pra gente do lado de fora. Era uma mesinha pequena pra duas pessoas, e ela já avisou, antes mesmo de a gente sentar, que, por conta daquela mesa, não seria possível pedir o churrasco (aquele que você mesmo assa na chapa em cima da mesa e um dos pratos principais do cardápio). Ok... a gente nem queria mesmo.

Fomos nos pratos prontos, todos a R$60. Como sempre, considerei o bibimbap e o Vito o topokki, mas estávamos nos sentindo confiantes, e como diria nosso querido amigo Anthony Bourdain: comida boa tem tudo a ver com risco. Então arriscamos um jeyuk bokkeum (carne de porco apimentada com arroz) e um japchae bap (macarrão de batata-doce com arroz).

E eu tentei escrever esse trecho várias vezes, mas não sei como te explicar… Comida coreana, pra mim, é como fazer uma oração de olhos fechados: nunca dá errado. Mas dessa vez, orei pro anjo errado e fui parar no inferno. Tô exagerando? Talvez. Mas foi difícil comer até o fim. O japchae não tinha tempero nenhum. O chef parecia ter medo de usar óleo de gergelim ou esqueceu completamente o que tava fazendo no meio do expediente. O jeyuk tinha um molho esquisito, lembrando vagamente o gochujang se ele tivesse sido diluído em vinagre de álcool. Foi uma decepção tão grande que a gente terminou a refeição em silêncio. (E uso esse momento para nos desculpar pela falta de imagens nesse post...não tinha clima para fotos.) A sensação era de que a comida tinha sido “rebaixada” pra agradar o paladar medíocre daquele tipo que não tem muito respeito por outras culturas e que sairia dali pra comer um Big Mac na Av. Santos Dumont.

E aí veio o golpe final: só chegaram dois banchans na nossa mesa (esses são os acompanhamentos de toda a refeição coreana) um kimchi de acelga e um de nabo. Ambos… péssimos. Realmente horripilantes. Além de não estarem fermentados, o que eu já consideraria um crime inafiançável na comunidade do kimchi, o tempero ainda era tenebroso. Você só sentia o gengibre, da ponta da língua até o fundo da garganta, o que tornava impossível de comer. E quem me conhece sabe que eu JAMAIS rejeitaria um kimchi. Mas dessa vez, me deixaram de mãos atadas e com a reputação no pé. Que tragédia menor: duas zombarias como acompanhamento, que não ardiam o paladar, apenas o meu orgulho.

No fim, minha nota pro Moim é 2/5. Fiquei, honestamente, muito triste por todas as pessoas que estavam ali pela primeira vez, porque se aquela fosse a minha primeira vez, eu acho que não comeria um kimchi nunca mais! E isso é muito triste, porque a culinária coreana é muito boa, muito saborosa, com muito tempero, e nos outros restaurantes que visitamos o atendimento sempre foi maravilhoso. Eles se sentem muito orgulhosos de compartilhar sua comida com você! Por último, se eu tiver um dia livre no Bom Retiro, com certeza procuraria outro restaurante (e posso indicar restaurantes muuuuito bons pra vocês) e definitivamente não indicaria o Moim como primeira experiência com a gastronomia coreana pra alguém que eu amo.

Arriscar sempre é bom, mas as vezes parte o coração. (Me escrevam sobre a experiência de vocês no Moim também, quero muito saber se esse sentimento se repete em outras pessoas.)

Tchau e um beijo.